Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade. (II Coríntios 13,8)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Cartas sobre Fé - Décima Segunda Carta



Leia também:
--------------------------------------------
Por Pe. Emmanuel-André

DA NECESSIDADE DE TER UMA FÉ ESCLARECIDA

O apóstolo São Pedro, escrevendo aos primeiros fiéis e por eles instruindo os fiéis de todos os tempos, dizia: «Ficai sempre prontos a responder em defesa da religião a quem quer que lhes pergunte qual a razão da esperança que está em vós».

O que traduzimos por responder em defesa da religião, está expresso em uma só palavra no texto de São Pedro. Ele diz ao pé da letra: apologia: «Estejam sempre prontos para a apologia»; quer dizer, segundo as solenes instruções de São Pedro, o santo Papa, todo cristão deve estar sempre preparado para a apologia, para a defesa da fé, contra quem quer que lhe pergunte a razão da esperança que ele traz consigo.

É preciso pesar bem os termos de São Pedro: estar sempre preparado contra quem quer que seja. Evidentemente para estar assim sempre pronto contra quem quer que seja, é preciso uma dose de instrução cristã, que hoje não é comum entre os cristãos.

Mas temendo estar sendo exagerado em alguma coisa, dou a palavra a um intérprete que não se pode recusar: (Estius, Comm. in Cap... III Epist. I B. Pet.). Traduzo:

«Este é o pensamento de São Pedro: Já que os infiéis chamam vã a esperança que tendes em Jesus Cristo numa vida futura e numa glória eterna, advirto-vos de que devem ter sempre pronta uma resposta pela qual possais mostrar que vossa fé e vossa esperança se apóiam em razões sólidas, seja para o caso de confrontar um contraditor ou simplesmente um homem desejoso de se instruir, que vos pergunte porque desprezais os bens da vida presente e sofreis tantos males nesta terra.

No entanto não é preciso entender com isso, que São Pedro exija que todos os cristãos sejam teólogos capazes de dissertar sobre os dogmas da fé, quer como doutores quer como apologetas. São Pedro só exige uma coisa: que se possa responder e satisfazer, segundo sua capacidade, a quem o interrogue e lhe pergunte a razão daquilo que crê e espera como cristão.

Há, com efeito, razões gerais pelas quais todo cristão pode sempre se defender contra os pagãos e responder a quem o interrogue; por exemplo: que a religião cristã foi anunciada pelos profetas; que foi confirmada pelos inúmeros milagres operados por Cristo e pelos apóstolos; que ensina a justiça, a inocência e a caridade levada até ao amor dos inimigos; que é religião muito casta. Ou ainda: que o mundo é governado pela providência de um Deus único, providência que no fim faz com que cada um receba segundo suas obras; que nada é impossível a Deus; que não é de espantar se nossa fé e nossa esperança ultrapassam a inteligência humana, já que na própria natureza há tantas coisas nas quais nosso espírito não poderá penetrar.

Do mesmo modo, há boas razões e argumentos gerais que são como que primeiros princípios, sobre os quais os fiéis precisam ser instruídos (instruídos por seus párocos) para responder aos heréticos que atacam a fé católica, ou que querem discutir sobre ela. Estes princípios são: que a Igreja de Cristo é una; que ela é visível e manifesta; que ela continuou até nós depois dos apóstolos pela sucessão dos bispos; que ela teve no seio grande número de santos mártires e confessores que em diversas épocas confirmaram e selaram a fé católica por suas doutrinas e milagres; que a Escritura nos manda escutar esta Igreja que é a coluna e a base da verdade.

É neste sentido que São João instrui os fiéis, no capítulo IV de sua primeira Epístola. Depois de ter dito: Examinai os espíritos, para saber se são de Deus, São João lhes prescreve este mesmo método geral para testar a fé quando diz: Quem conhece Deus nos ouve, quer dizer, ouve aos apóstolos e seus sucessores; Quem não é de Deus não nos ouve. É nisto que reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro».

Nosso comentador acrescenta: «Não obstante é muito conveniente que os fiéis possuam, segundo a capacidade de cada um, as razões mais particulares e as provas especiais, a fim de poder responder a quem quer que seja».

A palavra de São Pedro e as explicações de nosso comentador far-lhe-ão ver bem o que deve ser a fé dos cristãos.

Nós só temos ainda uma palavra para dizer, que será a prece dos apóstolos a Nosso Senhor: Adauge nobis fidem!Senhor aumentai-nos a fé! (Luc.XVII,53)

Digamos juntos: Credo.

---------------------------------

Sobre Padre Emanuel André:

Père Emmanuel nasceu em 17 de outubro de 1826 em Bagneux-la Fosse (no sudeste de Aube, na França que fazia parte da antiga Borgonha) filho de Alexandre André, carpinteiro e Emilia Piot. Recebeu no batismo o nome de Ernesto e foi o mais velho de uma família de seis filhos.

Aos nove anos, Ernesto contraiu uma febre tifóide que o levou às portas da morte. Depois de quarenta dias quase sem consciência, foi curado como por milagre. Pouco tempo depois, manifestou o desejo de ser padre. Seus pais como bons cristãos não se opuseram a essa vocação. Mandaram-no para um pequeno pensionato em Ricey-Haute-Rive, onde logo se distinguiu pela facilidade no estudo e pela alegria franca.

No domingo do Bom Pastor em 1839, com doze anos e meio, Ernesto fazia sua primeira comunhão. No ano seguinte, entrou para o seminário menor de Troyes e recebeu o sacramento da Confirmação. Foi para ele uma ocasião de graças particulares: “Compreendi o que é a vida sobrenatural: tudo o que eu pude ensinar às almas nesta vida, foi nesse dia e nesse lugar que eu aprendi”.

Já no seminário menor, o jovem Ernesto trabalhava facilmente e tirava em geral os primeiros lugares.

Em janeiro de 1842, teve a dor de perder seu pai, morto esmagado pela roda do seu moinho.

No ano seguinte, com dezessete anos, entrou para o seminário maior de Troyes. Nesta época a Igreja da França se levantava depois do tormento revolucionário e da “liberdade controlada” na qual a mantinha o regime napoleônico. Assiste-se a um verdadeiro desabrochar católico. A corrente ultramontana, fiel a Roma, levanta-se e se opõe à velha corrente galicana que tentava tirar a Igreja da França da autoridade Romana. As antigas ordens religiosas se restauravam e novas congregações apareciam3. Dom Guéranger restabelece a Ordem beneditina em 1837 e lançou uma campanha para que a liturgia romana fosse adotada pelos bispos.

O novo bispo de Troyes, Dom Debelay, conhecido por suas acentuadas tendências romanas, impõe a utilização da liturgia romana em seu seminário e em toda a diocese. O seminarista André se interessa muito por essa renovação e sua alma, formada nesse contexto de filial ligação com Roma, recebe a mais salutar influência. Esse amor pela Igreja unida em torno da Sé romana será uma das notas características do futuro Père Emmanuel e inspirará sua obra em favor da volta à unidade dos cismaticos orientais.

Nos seus estudos pessoais, o seminarista se aprofunda no conhecimento da liturgia. Explora também as obras de Santo Agostinho e impregnou-se de sua doutrina da graça.

Em 1848, André, com vinte e dois anos, terminou seus estudos de teologia. Não podendo ser ordenado tão jovem, passou um ano em casa e depois retornou ao seminário. Mas lá o vento tinha virado. Apontado como um ultramontano intransigente, notado por sua rude franqueza e pela vivacidade de caráter suscita problemas. Nesse período difícil, reza, consulta, se humilha e segue o conselho que lhe deram de se por na escola de São Francisco de Sales. Ordenado padre em 22 de dezembro de 1849, teve a alegria de celebrar sua
primeira missa na Visitação de Troyes. Revestido com uma das casulas do santo bispo.

Sobre o tumulo do père Emmanuel, lê-se este versículo de São Paulo: “Mihi autem absit gloriari, nisi in cruce Domini nostri Iesu Christi. Longe de mim gloriar-me, senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6,14). Ele resume numa só inspiração duas das maiores virtudes do Père Emmanuel: a humildade e o amor da cruz. A cruz foi a companhia indissolúvel de toda a sua vida, o selo do Cristo em sua obra.

Outra palavra do Apostolo completaria bem esse epitáfio: “Vós brilhais como tochas no mundo pregando-lhe a palavra de Vida” (Fp 2,15). Realmente, se Père Emmanuel foi um homem escondido na sombra pela humildade, foi um filho da luz pela pregação, pelo constante cuidado em propagar a fé e instruir. E não é dos menores aspectos de sua obra esta luz que ele espalhou, muitas vezes muito longe, por sua palavra e seus escritos, numa época onde a ignorância
religiosa e o liberalismo obscureciam os espíritos.

Fontes:

http://www.permanencia.org.br/revista/teologia/Emmanuel/cartas%20indice.htm http://www.permanencia.org.br/revista/teologia/Emmanuel/Emmanuel.pdf [adaptado]








Nenhum comentário:

Seja Bem-Vindo(a) ao Blog do Grupo de Estudo Veritas !

Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade.(II Coríntios 13,8)